A Palavra de Deus nos orienta no peregrinar da vida
"Às vezes gostaríamos de fazer tudo, resolver tudo do nosso jeito, entender e explicar tudo, esquecendo que só a paciência da escuta silenciosa dele é capaz de dar paz e serenidade à nossa alma, ao nosso eu e à nossa acolhida e convivência com o outro"
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Na caminhada de fé do povo de Israel Deus se manifestou através da palavra, e ela chegou no coração e na vida do povo pela boca dos profetas. Através da palavra Deus não só se revelou ao seu povo, mas o acompanhou ao longo da história, no seu peregrinar, em suas lutas, vitórias, angústias e dores, na escravidão e no exílio. Pela palavra alimentou a esperança, consolou na aflição, aliviou os sofrimentos, expressou compaixão, misericórdia, amor e ternura de Pai pelo seu povo.
Na Sagrada Escritura, o livro do Gênesis (Gn 18,1-10a) nos traz uma bonita história de acolhida, que tem como protagonista ninguém menos que Abraão, o nosso pai na fé. Diz o texto sagrado que certo dia o Senhor lhe apareceu junto ao carvalho de Mambré, quando ele estava sentado à entrada da sua tenda, na hora mais quente do dia. Quando ele levantou os olhos viu três homens de pé perto dele.
Ora, Abraão era um homem de idade avançada, mesmo assim não deixou que os viajantes prosseguissem a viajem sem usufruir da sua hospitalidade. E na hora mais quente do dia, quando as energias estão fragilizadas, Abraão deixa tudo de lado para acolher três estrangeiros, chegados de forma improvisa diante de seus olhos, com gestos puramente gratuitos e desinteressados.
Abraão não conhecia Deus como nós, através da face de Cristo. Ele desconhecia a face de Deus, mas ao acolher aqueles três desconhecidos, três estrangeiros, Abraão recebe uma promessa de vida: dentro um ano nasceria o filho que tanto esperava, e através dele viria uma descendência e um povo tão numeroso como as estrelas do céu. O seu gesto da acolhida reacendeu no seu coração a esperança nas promessas de Deus.
A acolhida do estrangeiro, do irmão, de Cristo, é uma única acolhida da vida que Deus nos oferece visitando-nos. Uma novidade de vida, que não muda de forma mágica a realidade cotidiana na qual estamos envolvidos, mas toca o nosso íntimo, o nosso olhar e o nosso estar com os irmãos. Acolher e ser acolhido faz praticamente parte da vida de todos nós. Quando acolhemos Jesus, Ele enche de vida nova o nosso ser e nos convida a deixar tempo e dar-lhe espaço, a esperar que as coisas cresçam e possam amadurecer pela vivencia da fé. Às vezes gostaríamos de fazer tudo, resolver tudo do nosso jeito, entender tudo e explicar tudo, esquecendo que só a paciência da escuta silenciosa dele é capaz de dar paz e serenidade à nossa alma, ao nosso eu e à nossa acolhida e convivência com o outro.
+ Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do Sul