O que podemos encontrar no deserto
"Quando nos colocamos a caminho para fazer uma viagem, geralmente gostamos de manter os olhos abertos, para contemplar paisagens que às vezes nos surpreendem, encantam e também questionam"
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Estamos vivendo o tempo do Advento, em preparação para a celebração do Natal, e a Palavra de Deus com frequência nos traz a figura de João Batista, o precursor do Messias. Ele escolheu o deserto como lugar para viver e anunciar a vinda do Messias, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O deserto é, por sua natureza, o lugar do silêncio, onde se ouve a voz do vento batendo nas rochas, mas também movendo, de uma forma quase imperceptível, a areia que molda continuamente a paisagem.
Neste tempo do Advento nós somos convidados a percorrer a nossa estrada interior, que parte do coração. Ela nos leva a contemplar uma paisagem marcada pela alegria estampada no sorriso das crianças, a esperança no futuro presente nos passos dos jovens, as preocupações com as realidades que envolvem o cotidiano das famílias e dos nossos idosos, que trazem no coração os longos anos vividos, às vezes, com muitas renúncias, provações e superações.
Quando nos colocamos a caminho para fazer uma viagem, geralmente gostamos de manter os olhos abertos, para contemplar paisagens que às vezes nos surpreendem, encantam e também questionam. Podemos ver a ação do Criador, da mãe natureza e da intervenção do homem, que pode ser benéfica ou também degradante, pelos males que podem provocar à Casa Comum e ao ser humano.
O caminho do Advento, percorrido através de pequenos passos a partir do coração, pode nos conduzir ao deserto interior, para nos aproximar de Deus e dos irmãos e irmãs que conosco querem encontrar o Senhor e celebrar a vida e o amor de Deus. Este amor pode ser manifestado através de pequenos gestos, e fazem muito bem para a nossa saúde espiritual, física e psíquica, na vida pessoal e familiar, no ambiente de trabalho e na comunidade.
Neste tempo do Advento, cada um de nós é chamado a tomar posição a respeito do Messias que vem, para celebrar o Santo Natal. Não podemos preparar a árvore do Natal sem preparar a alma, a nossa casa interior. Não podemos preparar o presépio sem abrir espaço no coração para acolher Jesus, que busca um lugar para fazer morada. Mesmo que tenhamos uma vida marcada por muitos compromissos ou por situações que colocam à prova a nossa paz interior e a nossa vontade de interagir com realidades presentes na sociedade, ainda é possível adentrar no deserto interior, para escutar a voz daquele que nos fala de amor, de um amor verdadeiro, manifestado em pequenos gestos que nascem do coração e falam da ternura, da misericórdia e do amor do Deus da vida, do tempo e da eternidade.
+ Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do Sul


