Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! No sagrado Tempo da Quaresma, a palavra de Deus nos indica o caminho da conversão para podermos celebrar a Páscoa do Senhor Jesus, renovados pela graça e a misericórdia de Pai. E o Profeta Isaías (Is 43,16-21) nos recorda que a confiança na ação de Deus em nossa vida através da fé faz a diferença, porque nos liberta de tudo aquilo que nos oprime, para vivermos com dignidade a vida, dom de Deus, como “Peregrinos de Esperança” num mundo marcado pela violência, contradições e indiferença em relação aos mais fragilizados e à própria natureza.

“Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? Pois abrirei estradas no deserto e farei correr rios na terra seca” (Is 43,19). Se não nos damos conta, é talvez porque continuamos a olhar para trás, nos damos por vencidos e nos acomodamos em ficar presos ao mal que nos domina e nos oprime, ao invés de buscarmos a graça da misericórdia do Pai, que nos liberta. Falta-nos a coragem do filho pródigo (Lc 15,1-3.11-32) que, para recuperar a sua dignidade de filho, precisou tomar a decisão de retornar para a casa do pai, onde foi abraçado e acolhido com uma grande festa. Durante o sagrado Tempo da Quaresma, esse apelo à reconciliação é mais intenso; é um convite a nos prepararmos para celebrar a paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus.

Toda celebração requer uma preparação, não só do ambiente onde se vai celebrar, mas principalmente de quem vai participar e acolher no seu coração o que se vai celebrar. A celebração da Páscoa nos faz recordar a vitória da vida sobre a morte, por isso queremos nos preparar para celebrar essa vida nova em Cristo Jesus. Mas como celebrar vida nova se não buscarmos romper as correntes que nos prendem ao pecado e nos afastam da misericórdia de Deus? Buscando o sacramento da Reconciliação. Ele tem a força de um segundo batismo, que fazemos não pela água, mas pelas lágrimas. Neste sentido, o sacramento da Reconciliação é o verdadeiro sacramento da misericórdia de Deus. É ele que nos perdoa e nos concede a possibilidade de iniciar uma vida nova.

O sacramento da Reconciliação nos liberta das correntes do pecado, que arrastamos conosco e nos impedem de viver com dignidade a vida, dom de Deus. Em nenhum outro momento da nossa vida experimentamos a compaixão de Deus de forma tão imediata, tão direta e tão concreta como quando, em nome de Jesus Cristo, o sacerdote nos diz: “Teus pecados estão perdoados”. Esse sacramento confere à pessoa que o busca a libertação interior, a paz espiritual e a alegria no coração.

Podemos até tentar justificar a nossa falta de frequência ao sacramento da Reconciliação dizendo que temos muitas formas de fazer penitência, através das obras de caridade, de renúncia ao lazer, ao consumo, etc. Mas quero recordar que tudo isso não substitui o sacramento da Reconciliação. Esse sacramento requer de quem o procura a humildade. Humildade para reconhecer o próprio pecado, mas também humildade para deixar-se tocar pela graça e a misericórdia de Deus Pai.

+ Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do Sul